Num momento em que uma solução para o problema da avaliação dos professores aparece embrulhada em manobras de bastidores, truques de prestidigitação, tácticas político-partidárias nas quais o ensino e os professores são apenas um detalhe, com tudo isto envolto por cortinas de fumo mediáticas, encomendadas no conúbio de interesses inconfessáveis, a APEDE reafirma a sua indisponibilidade para se pronunciar sobre cenários e sobre realidades mais ou menos virtuais. Não daremos um único cêntimo para o peditório das especulações.
Mas reservamo-nos o direito à crítica e à exigência em matéria de facto.
E recordamos aqui os nossos princípios no que respeita a um desfecho para a avaliação do desempenho docente. São os princípios que entendemos servirem melhor esta luta dos professores, luta com que nos comprometemos desde a primeira hora:
1.º - Não aceitamos que as classificações de «Muito Bom» e «Excelente», atribuídas no quadro de um modelo incapaz de distinguir o mérito docente, e obtidas à custa de vantagens artificial e arbitrariamente distribuídas, possam ter efeito em qualquer seriação futura dos professores, mormente as que se reflictam nos concursos de colocação.
2.º - Não aceitamos qualquer penalização para os professores que se recusaram a colaborar com este modelo de pseudo-avaliação, professores sem os quais teria sido bem mais difícil levar o nosso combate a bom porto.
Consideramos, pois, que uma solução condigna para o modelo de avaliação terá, necessariamente, de consagrar estes dois princípios, por uma questão de justiça e de decência elementares. E reiteramos a nossa preocupação ao constatar que nenhum deles aparece explicitado no projecto de resolução do PSD: o primeiro está ausente por omissão e o segundo fica diluído na redacção vaga e ambígua do ponto 3.
Importa frisar que não mantemos esta posição por teimosia maximalista. Não somos partidários do «tudo ou nada», e compreendemos que, num processo negocial, tem de haver a coreografia das cedências mútuas.
Mas há cedências e cedências. E, até agora, não vislumbrámos ainda a mais pequena cedência de vulto por parte do governo.
Há cedências e cedências. E nós, professores, já sofremos demasiado na nossa dignidade profissional para aceitarmos agora tergiversações que só virão acrescentar novos focos de iniquidade no sistema, contribuindo assim para adensar, futuramente, tensões e conflitos que em nada contribuirão para um bom ambiente de trabalho nas escolas.
Também não nos move qualquer espírito revanchista em relação a colegas que, a nosso ver de forma eticamente censurável, se colocaram a jeito para usufruir de classificações superiores a «Bom» à conta de um modelo indefensável. Não estamos aqui a visar pessoas. Estamos, isso sim, a pugnar por regras de equidade, convictos de que só elas poderão sanear um clima demasiado inquinado e restabelecer alguma confiança na lisura dos processos.
Finalmente, uma última palavra para aqueles que vêm agora saudar a possibilidade de a ministra abrir a porta para que os professores que levaram a luta até ao fim, recusando-se a entregar a ficha de auto-avaliação cozinhada pelo Ministério, o possam ainda fazer, "beneficiando" de tamanha "generosidade". É com espanto que vemos colegas da blogosfera a aplaudir aquilo que seria, aos olhos de todos, um golpe fatal na credibilidade dos professores, caso se viesse a concretizar. É com perplexidade que vemos a apologia do oportunismo e da falta de verticalidade ser feita em nome de uma suposta "inteligência negocial". O tacticismo parece, por estes dias, toldar certas mentes habitualmente lúcidas e respeitáveis.
A esses colegas retorquimos apenas isto:
Podemos trocar muita coisa num processo de negociação, mas não a consciência, nem a dignidade. Queremos que a nossa vida seja mais que uma "vidinha".
7 comentários:
Apoio totalmente esta posição! Trata-se mesmo da nossa dignidade que está em causa. É hora dos professores mostrarem se passam, ou não, de uns "professorzecos" que apenas se preocupam com a sua "vidinha"!
Carlos
Ricardo, transcrevo um comentário que deixei no umbigo que me surgiu na sequência da leitura do texto que o PSD apresentou. Acho que nos estamos a precipitar, quanto à interpretação da proposta. Vejamos o último ponto:
“Crie as condições para que do 1º ciclo de avaliação não resultem penalizações aos professores, designadamente para efeitos de progressão na carreira, derivadas de interpretações contraditórias da sua aplicação.”
o que posso concluir:
Como houve os oportunista do mérito + os avaliadores que, porque chefes, já tinham o mérito garantido + os outros méritos de acordo com a capacidade de dizer mais vezes: “yes, boss” e portanto, os que não se enquadram nestes figurinos, não podem ser prejudicados, concluo, portanto, que todos os professores serão avaliados com excelente.
Não consigo interpretar de outro modo. Esta será a única solução para que a justiça se cumpra.
Estarei errada?
Acho que é isto que o PSD propõe: que seja atribuída a menção de excelente a todos e devemos, desde já, fazer-lhe chegar as nossa felicitações unânimes
Ricardo
Talvez eu não esteja a ver bem a questão.
Remeto para ti e para o Paulo Guinote a clarificação de que todos nós necessitamos.
http://peroladecultura.blogspot.com/2009/11/apede-poe-o-dedo-na-ferida.html
Um abraço fraterno.
Posição correcta que aplaudo, não podemos, agora, só porque se vai negociar hipotecar os princípios. Quando da primeira grande manifestação houve muita festa por causa do diálogo, depois foi o que se viu, nada do essencial mudou.
Força !
L.sérgio
O Anónimo das 17.41h despertou-me um sorriso com a questão da interpretação do 3º ponto do projecto de resolução do PSD. Está bem observado e só vem provar, com fina ironia, a forma pouco clara como está redigido esse ponto e as possibilidades de interpretação que dele se podem fazer. Ora de interpretações díspares já nós temos a nossa conta.
Lelé Batita,
Creio que as nossas posições ficam, realmente, muito bem explicadas a partir dos links que referes no teu blogue. Obrigado, por essa tua iniciativa que visa o melhor esclarecimento dos colegas, mas também, e sobretudo, pelo teu empenho de sempre e dedicação exemplar a esta luta.
Bem hajas
Abraço fraterno e solidário
Não foi por acaso que me juntei a vós logo na primeira hora :)))
Concordo, na forma e na substância.
Querida Fátima,
Um beijinho grande com saudades.
E se tiver de haver próxima, já sabes, é no Norte :) Vocês merecem!
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