sábado, 22 de agosto de 2009

QUE FAZER?


A recente consagração (de mera aparência) do Simplex da avaliação por via legislativa, com a reiterada cumplicidade do Presidente da República, não deve merecer, da parte dos professores, grande preocupação.

É apenas mais uma manobra de aliciamento numa campanha eleitoral que, se não começou formalmente, já se está a desenvolver, na prática, a todo o vapor.

O truque é, em si, tão desprezível e de efeitos tão inócuos - pois o desfecho próximo deste ciclo político de tão má memória despe estes "actos legislativos" de quaisquer consequências duradouras - que os professores não devem perder demasiado tempo a medir-lhe toda a sua vacuidade.

Mais preocupante é a outra golpada que o Ministério sacou da cartola: a abertura de um pseudo-concurso para professores titulares. Porque ela confronta, uma vez mais, os professores com as suas escolhas individuais. Neste caso, trata-se de optar entre fazer ou não a inscrição on-line para a qual os docentes estão a ser aliciados.

Dir-se-á que, no plano dos princípios, a escolha é fácil: a recusa, pura e simples, de embarcar em semelhante "concurso", de acordo com a posição que defendemos no "post" anterior. Temos todos de perceber que o que está aqui em causa é fundamental: os professores têm de deixar um sinal muito claro de que não estão dispostos a pactuar com qualquer passo mais que contribua para cirstalizar a divisão da carreira docente.

Contudo, forçoso é reconhecer que essa opção está cercada por todos os medos, todas as chantagens, alguns oportunismos e cálculos individuais que permitem minar a unidade dos professores, lançando fracturas que o Ministério não deixará de aproveitar para enfraquecer a nossa classe profissional. Neste momento, só os mais distraídos não vislumbram onde semelhantes cedências podem conduzir. E, num ponto como este, toda a tergiversação é fatal.

Àqueles que se poderão sentir tentados a argumentar com o facto de que, no concurso anterior para professores titulares, quase todos os que estavam em condição de concorrer efectivamente o fizeram, não tendo, portanto, autoridade para agora apelar ao boicote deste pseudo-concurso, há que responder o seguinte:

1.º - Esse concurso decorreu num contexto totalmente distinto daquele em que agora nos encontramos: os professores estavam desorientados; não havia um movimento colectivo minimamente forte e estruturado; a blogosfera docente, enquanto plataforma de organização, era então uma realidade apenas emergente (o blogue do Paulo Guinote, por exemplo, estava a dar somente os seus primeiros passos); os sindicatos viviam ainda atordoados perante a agressividade da equipa ministerial; a maioria dos professores não tinha ainda percepcionado cabalmente os efeitos mais perversos da divisão da carreira. Por conseguinte, só por uma enorme má-fé se poderá querer equiparar a situação do anterior concurso à que estamos a viver neste momento. Até porque existe uma diferença de peso: nessa altura, o Governo navegava num "miraculoso" estado de graça mediático e parecia de vento em popa, ao passo que agora o clima é de fim de festa, com o barco governamental a meter água por todos os lados e com vários ratos a fazer as malas e a abandonar precipitadamente essa nave em estado de desagregação, como se pode ver aqui e aqui. Esta é, pois, a ocasião ideal para os professores abrirem mais umas frechas no porão, a fim de que o lamentável navio naufrague de vez, de preferência para uma profundidade em que não seja possível recuperar qualquer destroço.

2.º - Na sua grande maioria, os professores que obtiveram a titularidade no concurso anterior não têm qualquer orgulho na posse de semelhante "brinde" e estão, pelo contrário, desejosos de regressar à sua condição, afinal muito mais nobre, de professores de corpo inteiro, sem títulos espúrios. Aliás, muitos deles estiveram na linha da frente dos combates que se travaram contra a divisão da carreira. E vão continuar a estar nos combates futuros, ao lado dos colegas que não são titulares.

Porque a realidade é esta: titulares ou não, os professores estão esmagadoramente contra a divisão da carreira, e aquilo que esperam do novo governo que se venha a formar no próximo ciclo político é uma revisão drástica do ECD que acabe, de vez e de maneira inequívoca, com a diferenciação dos docentes em categorias arbitrárias e injustas, definidas por critérios aberrantes, que em nada reflectem a qualidade efectiva das práticas de ensino.

É isto que os professores pretendem e é por isto que eles têm de lutar.

A recusa de participar nesta farsa de concurso - para mais anunciado da forma invariavelmente indigna que caracteriza este Ministério - é uma parte fundamental dessa luta. E nela todos os professores se devem rever.

3 comentários:

Espanto disse...

Como é possível afrontar desta maneira, os já tão indignados professores? Mais uma trapalhada à semelhança das anteriores?
Não concorrer à Prova é a Única resposta decente, para quem é docente. Pelo menos até às eleições, ninguém se deveria inscrever no Big Brother!

Gato Preto disse...

Pela minha parte, não tenciono concorrer a esta farsa. E há que esclarecer aos colegas que, a partir de 27 de Setembro, estão criadas condições para acabar com os "titulares".

Safira disse...

Eu disse NÃO (mais uma vez)ao concurso de Prof. Titular. Espero que dia 27 de Setembro o Governo Socrates caia da cadeira do poder.

Abraço solidário.

Safira

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