segunda-feira, 30 de março de 2009

Educação encontra mais erros no 'Magalhães'

Revisão aos conteúdos do computador para alunos do 1.º ciclo detectou novas gralhas e problemas de tradução em mais três programas.

O Ministério da Educação (ME) mandou retirar quatro conteúdos do 'Magalhães', o computador portátil utilizado por 200 mil crianças do 1.º ciclo, incluindo o polémico Gcompris, que continha dezenas de erros ortográficos. Os outros três programas apresentavam igualmente problemas de "rigor linguístico e pedagógico" ou de "adequação educativa".

O trabalho de revisão foi desencadeado pelo ME na sequência da denúncia do deputado José Paulo Carvalho e da notícia do Expresso sobre a existência no 'Magalhães' de um programa educativo com instruções repletas de erros, como "acabas-te", "caêm" ou "fés".

Depois da polémica, a tutela pediu à JP Sá Couto, fabricante do 'Magalhães', que não incluísse esta versão nos novos portáteis e publicou na Internet um manual de instruções para que escolas e pais pudessem retirar o programa da GCompris, traduzido voluntariamente por um emigrante português em França. E prometeu rever todos os outros conteúdos.

Após esse trabalho, os técnicos do ME entenderam que também as aplicações Childplay, Tuxpaint e Magic Desktop apresentavam problemas. "Alguns, pelo seu interesse educativo, estão a ser corrigidos pelos respectivos produtores de forma a poderem ser posteriormente submetidos para análise do ME", informa o ministério.

No caso do Tuxpaint, um programa de desenho, é fácil perceber de imediato que também o trabalho de tradução está, no mínimo, incompleto. Tanto se encontram palavras em português como em inglês. E ainda que o idioma seja aprendido pela maioria das crianças do 1.º ciclo, é pouco provável que percebam frases como "a stethoscope lets your doctor listen to your heart and lungs". No Childplay volta a haver um problema de falta de tradução mas também de erros ortográficos: nas instruções pode ler-se o "objetivo" do jogo.

No final da próxima semana, as escolas deverão receber mais indicações para actualizar o software dos computadores já distribuídos.

Ministra rejeita responsabilidade

Questionada esta semana no Parlamento sobre a falta de controlo de qualidade dos programas inseridos no 'Magalhães', a ministra da Educação negou que esse trabalho não tivesse sido feito e atribuiu responsabilidades aos produtores de conteúdos e à JP Sá Couto.

"Os conteúdos foram todos verificados no início do programa e-escolinhas, em Agosto e Setembro. O que se passou é que, entre esse momento e o momento actual, na relação entre os produtores de conteúdos e o produtor do computador, confiámos nas instituições e não achámos necessário estar permanentemente a fazer o controlo", justificou Maria de Lurdes Rodrigues.

Depois da última revisão, acrescentou a ministra da Educação, o ME percebeu que tinham sido inseridos no Magalhães "muitos mais conteúdos e versões do que os que tinham sido validados" pela tutela.

As explicações não coincidem, no entanto, com as que foram dadas no início da polémica por Teresa Evaristo, da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), organismo tutelado pelo Ministério. Na altura, a subdirectora da DGIDC assumiu ao Expresso que não tinha havido capacidade para verificar todos os conteúdos. "Nós analisamos o interesse educativo, se são adequados à idade, programa e currículo. Tivemos a preocupação de ver os menus iniciais deste programa, mas não vimos as instruções (onde estão os erros)", disse.

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