domingo, 26 de outubro de 2008

POR QUE PROTESTAM OS PROFESSORES

Depois da manifestação que juntou 100 mil docentes vêm aí mais duas no espaço de uma semana
Seja qual for o Governo, seja qual for o ministro, há uma verdade que o tempo se tem encarregado de tornar indesmentível: os professores manifestam-se, protestam, fazem greve.Normalmente, essa actividade contestária da classe docente resulta na demissão do responsável pela pasta da Educação. Mas, nos tempos que correm, a situação é diferente. Maria de Lurdes Rodrigues, que ostenta o título de governante que enfrentou a maior manifestação de sempre - 100 mil professores saíram à rua em Março último -, tem resistido à força dos cartazes e das palavras de ordem e na sua agenda estão já assinalados mais dois dias de luta, a 8 e 15 de Novembro.Mas, afinal, por que protestam tanto os professores? A pergunta não é de resposta fácil, mas há uma justificação, avançada pelo antigo ministro Couto dos Santos, que pode muito bem ser o ponto de partida para outras análises. "Após o 25 de Abril, o sistema educativo em Portugal não se conseguiu libertar do anátema de politizar as questões relacionadas com a educação." Depois, vêm as razões mais directas, enumeradas pelos próprios docentes, por quem os representa, por quem está do outro lado e mesmo por quem assiste de fora: desrespeito por parte da tutela; adopção de medidas que alteram os fundamentos da escola pública; mudança de regras e introdução de normas de rigor e exigência; e ausência de constrangimentos de natureza contratual que os [professores] possam fazer sentir em perigo.
[...]
Consenso ou concertação, como aponta Ivo Domingues. O sociólogo da Universidade do Minho, que escreve e reflecte sobre temas da Educação, lamenta a não existência em Portugal de uma cultura da política favorável à concertação. "Temos o Governo a legislar sem ouvir convenientemente os parceiros e movido por uma agenda política em que o tempo é erradamente concebido. As mudanças fazem-se muito por decreto. E temos sindicatos que apenas existem para defender o que há. Precisamos de governos que negoceiem mais as medidas e sindicatos que sejam parceiros na antecipação do futuro", observa.Como este cenário não se verifica e como os professores têm uma identidade profissional muito própria, o resultado está à vista: manifestações e mais manifestações. Do ponto de vista da análise sociológica, a questão da identidade profissional é muito importante, segundo Ivo Domingues. Ou seja, na medida em que os professores se vêem a eles próprios como formadores de personalidades e de cidadãos, assumem para eles o comportamento de cidadania que lhes permite dizer com toda a liberdade o que pensam. "E como não têm constrangimentos de natureza contratual que os possa fazer sentir em perigo, porque o patrão é o Estado e é ao Estado que compete garantir todos os direitos de cidadania"..., avançam para a rua.Mas será que esta falta de concertação é exclusiva do sector da Educação? Não, diz o sociólogo. A questão é que, explica, os médicos e os juízes, por exemplo, têm outros palcos de influência e de defesa dos seus interesses. "Estão mais representados nos órgãos centrais do Estado", sintetiza.

In
Jornal de Notícias.

8 comentários:

Anónimo disse...

Haver 1 ou 2 ou 3 (5 de Novembro: Alunos) manifestações até pode ser benéfico, na medida em que prolonga, no tempo, a contestação à política educativa.
Agora, a Ministra não pode contabilizar cada uma delas, porque pouco depois de 8 de Março afirmou que 100 000 = 1000.
Pedir a demissão da Ministra era como virar o disco e tocar o mesmo, mas com menos contestação (veja-se o caso da Saúde, mudou a Figura Ministerial e manteve-se a Política de Saúde).
Queremos a Ministra ser humilhada até às Eleições, para que o PS não obtenha outra Maioria Absoluta.

Anónimo disse...

É preciso ter consciência de que a manif de 15 de Novembro é importante mas exige outra forma de luta mais decisiva: a greve geral de 2, 3 ou 4 semanas pela demissão da ministra e a abolição do Estatuto da Carreira Docente, do novo Decreto de Gestão e do Processo de Avaliação em curso. Há que pensar para além da manifestação e organizar comités de luta em todas as escolas.

Francisco

Anónimo disse...

Esta manhã, para meu espanto, 1 colega do sindicato dos professores licenciados já dizia que nos inscrevêssemos no autocarro da manif do dia 8 que já estava decidido que ia haver apenas 1 e era dia 8… mas se a reunião é dia 29, como pode ser? há mesmo novidades?

Anónimo disse...

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1034373

Nesta notícia sobre a reunião de dia 29, solicitada PELOS MOVIMENTOS destaco a seguinte passagem:

O encontro de quarta-feira não tem “pontos em agenda pré-definidos”. Na eventualidade de um dos lados desistir de uma data “em nome” da convergência, deverão ser os movimentos a abdicar.
“Não faz sentido o inverso”, defendeu ao JN Carlos Chagas.

Ora bem, aqui está a extraordinária abertura negocial dos sindicatos. Fantástico! Como quem diz: podem cá vir falar connosco mas ficam já a saber que daqui não levam nada, a mudar-se a data, tem de ser a nossa data!

Depois ainda há quem diga que os movimentos de professores é que fomentam a divisão. Já não bastou os sindicatos terem feito birra e numa atitude lamentável marcarem uma manif para 8 dias antes com argumentos inenarráveis, numa tentativa totalitária de esvaziar a manif de 15, apenas porque têm uma sede imensa de poder e de controlar as massas, e agora vêm com esta afirmação à imprensa, condicionar as negociações, inquinando e azedando o clima para uma reunião que foi solicitada, pelos movimentos de professores.

Se eu estivesse no lugar dos representantes dos movimentos já os tinha era mandado à m**** e nem punha os pés na reunião. Fiquem lá com o vosso plenário (tudo de bracinho e bandeirinha no ar a aprovar o que depois não se cumpre) e com a manif de dia 8. Os professores com tomates, que não se deixam manipular e que percebem que podem ser mais activos e decisivos na luta porque não estão amarrados a nenhum acordo com o ME, esses saem à rua dia 15! Por mais que não fosse por ser histórica e pelo potencial desorientador e desestruturante que uma manifestação nacional convocada por simples professores pode ter para o ME! Lembram-se do buzinão na ponte? Lembram-se do protesto dos camionistas? Lembram-se das estradas cortadas pelos agricultores do Oeste? Lembram-se das escolas fechadas a cadeado por pais e alunos?

Está na hora, mais que na hora, de assumirmos nas nossas mãos o que queremos, o que não queremos e a condução do nosso protesto! Livres de amarras e cajados! E o resto é paisagem carago! Afinal somos homens (e mulheres) ou somos galinhas?

Anónimo disse...

Se existirem duas manifestações não vou a nenhuma. Na minhaescola a coisa também anda por ai.

Reflictam bem e deixem os egos em casa, colegas.

Não sou nem nunca fui sindicalizado. Portanto, estou a vontade.

Por uma unica manifestação. Por uma única luta.

União! União!

Anónimo disse...

Mesmo para a manif de 8, há pouca movimentação por enquanto...

Anónimo disse...

O pessoal dos movimentos que não se esqueça de uma coisa: quem os apoia não confia nos sindicatos nem um bocadinho e ficará muito desiludido se se vergarem à chantagem sindical(a treta da união faz força - viu-se o que deu a união do dia 8 de Março). Mesmo que algum movimento volte atrás, os professores cerrarão fileiras em torno dos restantes. Andar atrás dos bonzos sindicais é que "jamais", como diria o outro.

Anónimo disse...

Colega professor com esperança, pois eu, se houver duas manifestações vou às duas, vou a TODAS que se façam!
Reflicta o colega também...

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