sábado, 25 de julho de 2009

NO MELHOR PANO CAI O EQUÍVOCO

O assunto, em si mesmo, talvez não mereça grandes considerações. O Paulo já teceu sobre ele alguns comentários contundentes q.b. Mas, ainda assim, importa acrescentar algo mais, e dizer que não deixa de ser lamentável ver um intelectual, que até há bem pouco tempo passava por ser um exemplo de consistência e de lucidez analítica, dar uma cambalhota tão deprimente para acabar nisto. É mais um estranho caso de amnésia política por parte de quem escreveu textos como este.

Usando aqui alguma bondade interpretativa, diremos que estamos a assistir a um espantoso exercício de ingenuidade onde ele menos se esperava. Neste momento, vários desiludidos do Bloco de Esquerda estão a ser atraídos para a esfera de um PS ansioso por se paramentar com umas vestes de esquerda, num "lifting" desesperado de última hora.

É duvidoso que o PS ganhe muitos votos à esquerda com esta estratégia. Provavelmente, ganhará tantos como os que lucrou com a escolha de Vital Moreira para cabeça de lista nas eleições europeias. E é também duvidoso que a tentativa oportunista de seduzir minorias discriminadas, mediante a cooptação dos seus respectivos activistas, seja suficiente para dar ao PS de Sócrates um fôlego traduzível numa nova maioria eleitoral.

A aparente ingenuidade a que nos referimos acima necessita, contudo, de algumas observações adicionais. Pelos vistos, subsiste numa certa esquerda a ilusão de que o PS é um partido de... esquerda. Sucessivos anos de desenganos não bastaram para desfazer essa ilusão.

Será preciso explicar, pela enésima vez, que o Partido Socialista ostenta um nome duplamente impróprio? Impróprio porque, numa organização que já nem social-democrata se pode considerar, a designação de «socialista» constitui, certamente, uma piada de mau gosto. Mas impróprio também porque José Sócrates se encarregou de destruir o que ainda restava de natureza «partidária» no chamado «Partido Socialista».

Actualmente, o PS não existe como partido. Desprovido de qualquer debate interno ou de reflexão digna desse nome, está reduzido a uma agremiação de pequenos carreirismos e caciquismos locais, provisoriamente arregimentados em torno da promessa de poder que Sócrates parecia representar até ao dia 7 de Junho. Imaginar que é possível fazer alianças com uma «ala esquerda» de semelhante organização representa o maior dos equívocos. Mas é nesse equívoco que agora se precipitam vários desalinhados de esquerda, ignorando (pelos vistos) o impacto nulo que os balbucios "dissidentes" de Manuel Alegre tiveram dentro do PS.

Um tal equívoco serve apenas de balão de oxigénio a José Sócrates e às suas políticas objectivamente neoliberais - com uma ou outra piscadela de olho a medidas "fracturantes" e "modernas", que não tocam no cerne de um dos governos mais socialmente conservadores e autoritários que tivemos desde o 25 de Abril. Para quem tenha memória curta ou falta de pudor, encontra-se aqui a lista dessas políticas.

O socratismo pode, pois, gabar-se de ter metido no bolso uns tantos «intelectuais de esquerda» que, de forma muito pouco intelectual (isto é, nada inteligente), se arriscam a fazer o papel de idiotas úteis.

Talvez um dia acordem nesta situação:


2 comentários:

J. Barata disse...

Apesar de ser filiado no Bloco, penso que é natural que um partido convide as pessoas que estão descontentes com outro partido. O que é grave é que utilizem cargos públicos para aliciar pessoas de outros partidos.

Mário Machaqueiro disse...

Não está em causa quem convida (a menos que recorra ao truque pouco limpo que o J. Barata refere no seu comentário). Está em causa, isso sim, quem aceita o convite, quando o faz na base de premissas que são, no mínimo, altamente discutíveis. Note-se que não estamos a fazer ao Miguel Vale de Almeida, e a quem pensa como ele, a acusação (pouco dignificante num debate que se pretenda alguns metros acima do solo) de que anda à procura de "tacho". A nossa crítica não assenta em processos de intenção que só se viram contra quem os faz. A nossa crítica incide no tipo de cegueira que se parece ter apoderado de algumas mentes que tinham a obrigação de ler, com um mínimo de lucidez, a agenda política patente, desde o início, em toda a actuação de José Sócrates e dos seus apaniguados.

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